sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

O ADEUS DO OCASO

Por Luiz Carlos Amorim - Escritor, editor e revisor – Fundador e presidente do Grupo Literário A ILHA, que completa 37 anos de literatura neste ano de 2017. Cadeira 19 da Academia Sulbrasileira de Letras. Http://luizcarlosamorim.blogspot.com.br Http://www.prosapoesiaecia.xpg.uol.com.br


   O “meu” cachorro velhinho e doente morreu. Um dálmata de cerca de quatorze ou quinze anos, a dona não sabia ao certo, estava muito, muito doente. Tinha reumatismo crônico nas juntas, com grandes inchaços logo acima das patas e quase não conseguia andar. Ele vivia numa casa quase perto da minha e eu via o seu sofrimento.
   Não conhecia a sua dona, mas mesmo assim falei com um farmacêutico que também cuidava de animais já bem velhinhos e sabia o que fazer, e ele me indicou remédios para o “nosso” dálmata: antirreumático, análgésico, antibióticos, etc. E eu levava todos os dias os pedaços de comprimidos dentro de uma salsinha ou de um pedaço de carne, levava biscoitos caninos e ele comia. Alternava os tipos de remédios, conforme indicação.
   No começo, quando comecei a levar os remédios, ele tinha muita dificuldade de levantar e ir até perto da cerca para pegar o que lhe oferecia, pois eu não podia entrar, só o dálmata e mais outro cão ficavam na casa e o portão ficava fechado. E ele começou a melhorar, levantava com um pouco menos de dificuldade.
   Um dia, calhou de encontrar lá a dona da casa, que levava comida e água para os cães. Falei com ela e disse-lhe que estava dando remédios para o cão doente e velho e ela disse que estava feliz, porque o cão, que quase não comia mais, estava comendo bem. Então lhe disse que também tinha percebido a sua melhora, que ele estava comendo porque agora conseguia chegar até a comida.
   A dona é uma pessoa simples, também dava um remédio para ele, mas um remédio que não resolvia o problema do cão, não lhe diminuia a dor. Ela tinha boa intenção, gostava dos cães, mas não morava na casa, então não estava sempre por perto.
   E apesar da constância na adminstração dos remédios, o dálmata foi piorando de novo, não vinha mais até a cerca para pegar a comida com o remédio então eu enfiava meu braço através das barras com espaço exíguo entre elas e tentava jogar a salsicha com o remédio para  perto dele. Nos primeiros dias deste tiro ao alvo, ele se arrastava e pegava a comida, se não caísse muito longe. Depois de algum tempo, mesmo que caísse perto, ele não ligava.
   Num desses dias, encontrei de novo a dona lá, e ela estava desesperada, porque ele não estava comendo mais. Viu a salsicha com o remédio e ofereceu a ele, mas ele não quis. Ela então colocou na sua garganta e ele engoliu. Tentou fazer isso de novo, depois, mas no dia seguinte, quando chegou, ele estava morto.
   “Nosso” dálmata vellhinho se foi. Ele sofria muito, já não queria mais viver. Sentia muitas dores e a sua idade não ajudava, seu tempo já estava vencendo. Fico muito triste, pois me lembro de nosso Xuxu, que também morreu de velhinha, com vinte anos, e sofreu muito, pois não tivemos coragem de abreviar-lhe o sofrimento.
   Espero ter conseguido diminuir a dor, pelo menos por algum tempo, do “nosso” dálmata velhinho. Ele certamente está no céu dos cachorros, onde deve ter encontrado Xuxu e a mãe dela, Dona Menina. Saudades.

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