Por
Luiz Carlos
Amorim –
Escritor,
editor e
revisor,
Cadeira 19 na
Academia
SulBrasileira
de Letras –
Fundador e
presidente do
Grupo
Literário A
ILHA, com 38
anos de
trajetória. http://lcamorim.blogspot.com.br
– http://www.prosapoesiaecia.xpg.uol.com.br
Escrevi e
publiquei o texto abaixo em 2014, mas volto a publicá-lo porque chego mais uma
vez em Portugal, esta terra fantástica, e encontro manifestações do povo contra
o Acordo Ortográfico de 1990, adotado no Brasil a partir de 2016. Em Portugal
ele teria sido adotado em 2009, mas há polêmica quanto a essa data, em razão da
não publicação em tempo hábil do Diário Oficial de Portugal. Mas a verdade é
que o Acordo nunca foi totalmente assimilado no país, pois a maioria não quer
mudar a maneira de falar nem de escrever. E os portugueses pedem para revogar o
documento, com a Iniciativa Legislativa de Cidadãos Contra o Acordo
Ortográfico, tendo conseguido já o número de assinaturas necessárias para
encaminhá-la.
Então, bem
antes disso, um artigo,
muito interessante, sobre o fato de o Acordo Ortográfico e a Unificação da
Língua Portuguesa – essa pretendida “unificação” não tem como ser levada a
efeito - não ter melhorado o acesso do livro português no mercado brasileiro,
me chama muito a atenção: “Ao estabelecer uma
ortografia unificada, o acordo ortográfico iria facilitar a circulação do livro
português no Brasil. E a circulação de livros de um país lusófono nos outros. Este foi, entre muito outros, um dos
argumentos brandidos em favor da sua aplicação. Agora que, tanto em Portugal
como no Brasil, boa parte das editoras adoptaram
o acordo, essa promessa começa já a concretizar-se? A resposta parece ser
negativa.” O texto é de origem portuguesa, está num apanhado de clips sobre
livro e literatura, mas não identifica o órgão publicador.
Uma afirmação de Pedro Benard da Costa, da legendadora portuguesa
Cinemateca, fecha o texto – que não é pequeno, com depoimentos de editores e
livreiros portugueses: "A construção gramatical é completamente diferente
e há muitas palavras que não têm o mesmo sentido cá e lá."
Pois venho escrevendo sobre isso há anos, ponderando que o Acordo
Ortográfico não significa que haverá, automaticamente, uma unificação da língua
portuguesa em todos os países onde ela é falada. Existem muitas palavras que
têm significado diferente aqui e em Portugal, por exemplo, mas é possível que
isso aconteça na comparação com outros países, como Cabo Verde, Angola, etc. Lá
fora existem muitas palavras que são não usadas aqui e vice-versa. Uma
alteração quase que exclusivamente de acentuação não resolveria as diferenças
de significação, o que não inviabiliza a leitura dos livros portugueses no
Brasil. O que incomoda é a pretensão de alguns dos promotores do acordo em
querer que o português seja exatamente o mesmo, independente do país onde ele é
falado. Se até dentro do mesmo país, há diferenças na maneira de falar o
português – isso acontece no Brasil -, como esperar que a língua seja a mesma
em vários países onde ela é a língua oficial, tão distantes uns dos outros? A
linguística existe e vai continuar existindo sempre, não há como ser diferente.
Tenho lido vários autores portugueses, como José Luís Peixoto, Gonçalo
M. Tavares, Miguel Torga, Saramago e o angolano Valter Hugo Mãe, angolano que
vive em Portugal, e não tenho tido dificuldade na compreensão dos textos,
apesar de serem livros publicados em Portugal e, por isso, conter palavras
desconhecidas. O contexto permite que se entenda perfeitamente o assunto. Não
tenho dicionário português que não seja o nosso aqui do Brasil, mas posso
pesquisar na internet, se for o caso.
Aliás, como já sabemos através dos clássicos portugueses mais conhecidos
no Brasil, Pessoa e Camões, a literatura portuguesa é rica e de qualidade. Quem
conhece os autores contemporâneos citados acima sabe do que estou falando, pois
são autores consagrados em Portugal, com obra extensa e largamente premiada.
Vale a pena conhecer. O português não é exatamente o mesmo que o nosso, há
diferenças, sim, mas não há necessidade de tradução para publicação da obra de
autores portugueses aqui, porque a compreensão é completamente possível.
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